Martin Fischer quase emigrou para os EUA e não para o Brasil

Patriarca da família Fischer no Brasil, Martin Fischer tentou emigrar para os EUA, cerca de 10 anos antes de sua vinda para o Brasil. É o que consta em uma recente descoberta feita por Heitor Fischer, durante suas pesquisas.

Em contato com o Arquivo do Estado da Renânia Palatinado, obtivemos uma resposta interessante sobre Martin Fischer. Consta nos arquivos de emigração de Flonheim, no inventário H 51 do Distrito de Alzey, que o entalhador Martin Fischer, de Flonheim, de 33 anos de idade, em 30 de março de 1837, fez um pedido para que sua família emigrasse para a América do Norte.

As seguintes pessoas são especificadas como membros da família:

Catharina Elisabetha, nascida Stumpf, sua esposa, com 43 anos de idade
Anton, filho, 14 anos de idade
Johann Jacob, filho, 12 anos de idade
Johann Martin, filho, 08 anos de idade
Friedrich, filho, 05 anos de idade
Heinrich, filho, 03 anos de idade

O conselho distrital do Distrito de Alzey não levantou objeção ao pedido, no entanto, não está claro nos documentos se Martin Fischer e sua família realmente emigraram para a América do Norte em 1837. Não encontramos documentos que comprovem a saída da Alemanha, tão pouco que mostre a entrada nos EUA. Ao que tudo indica eles desistiram da viagem ou tiveram algum problema que impediu a emigração.

Documento do Arquivo do Estado de Hessen com a autorização de emigração de Martin Fischer e família em 1837
Documento do Arquivo do Estado de Hessen com a autorização de emigração de Martin Fischer e família, para os EUA, em 1837

Transcrição e tradução: Registro – por Martin Fischer, pedreiro em Flonheim, onde mora com sua família, quer emigrar para a América do Norte. Apareceu perante mim Martin Fischer, pedreiro, explicando que ele junto com sua família deseja para a América do Norte emigrar e se submeter aos regulamentos e leis. Para que nenhum obstáculo tenha aos seus projetos, sua família é constituída pelas seguintes pessoas: 1. Martin Fischer, entalhador, 33 anos. 2. a esposa, Katharina Elisabetha, nascida Stumpf, 43 ano de idade. 3. Anton, 14 anos de idade. 4. Johann Jacob, 12 anos.5. Johann Martin, 8 anos. 6. Friederich, 5 anos de idade. 7. Heinrich 3 anos. Depois de ler sua declaração ao declarante, ele assinou comigo.

Em 1837 ainda não havia nascido dois filhos mais novos de Martin Fischer e Katharina Stumpf. Por isso Catharina Fischer e Philipp Fischer não constam na lista citada acima. Ela nasceu em 1837 e pode inclusive ter sido o motivo dos pais não terem emigrado para os EUA, temendo o risco de viajarem com Catharina Stumpf gestante. Já Philipp nasceu em 1843, quando Catharina Stumpf estava com 49 anos, um fato também incomum pela idade avançada.

Não foram encontrado registros oficiais da vinda da família para o Brasil, mas fato é que Martin Fischer teria sido recrutado pela Vergueiro e Cia em 1846, como consta no livro de abertura da colônia Ibicaba e teria chegado com a família em 1847.

*Colaborou com informações Heitor Fischer

Anton Fischer de colono a diretor da fazenda Ibicaba

Anton Fischer, filho de Martin Fischer e Katharina Stumpf, emigrou da Alemanha para o Brasil, com os pais e irmãos, em 1847. Eles teriam sido parte da primeira leva de colonos contratado pela Vergueiro e Cia, no regime de parceria, para trabalharem na fazenda Ibicaba, em Limeira, São Paulo.

Anton, que no Brasil se transformou em Antônio Fischer, nasceu em 27 de abril de 1823, em Flonheim, Alzey-Worms, no estado da Renânia-Palatinado, na Alemanha. Ele foi casado com Elizabeth Barth, no Brasil o nome de sua esposa se tornou Izabel, mas não conseguimos precisar, ainda, se ele se casou no Brasil ou se veio casado da Alemanha. O casal teve comprovadamente 6 filhos, todos no Brasil, são eles:

Martinho Fischer (1850-1913)

Antônio Fischer Filho (1852-1909)

Henrique Fischer Sobrinho (1855-?)

João Fischer (1856-?)

Sebastião Fischer (1859-?)

Bárbara Fischer (1862-?)

Anton Fischer foi diretor da Fazenda Ibicaba. O nome dele é citado em livros que tratam sobre o trabalho dos colonos na fazenda, como o clássico Ibicaba, uma experiência pioneira, de autoria do historiador José Sebastião Witter, que aponta que os diretores de origem alemã Adolph Jonas e Anton Fischer detiveram o poder entre os anos posteriores a 1850 até 1867.

O nome de Anton ou Antônio Fischer também aparece no Livro Mestre da colônia Vergueiro, como assinatura nos documentos de contabilidade dos colonos, como no exemplo abaixo:

Contabilidade do colono Jacob Blumer na fazenda Ibicaba
Relatório de contabilidade do colono Jacob Blumer na fazenda Ibicaba

Alguns registros que abordam o período da revolta dos colonos contam que o diretor da fazenda Ibicaba, de sobrenome Fischer, era uma figura pouco apreciada pelos colonos e motivo de reclamações. Como diz esse trecho do livro Viagem às províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, de autoria de J.J. Tschudi (pág. 187): “Um dos piores elementos desta categoria miserável foi, sem dúvida, o diretor da fazenda Vergueiro, um certo Fischer, homem sem cultura nem educação, inominávelmente brutal, que veio a ter que se entender com a polícia e a justiça”.

Outros registros mostram que, após o período na fazenda Ibicaba, Antônio Fischer teria se estabelecido em Piracicaba, São Paulo, onde teria uma marcenaria. Tal empreendimento aparece em citações de obras como Piracicaba no Século XIX e Colonos na Fazenda Ibicaba, empresários em Piracicaba.

Após o período na fazenda Ibicaba e a possível passagem por Piracicaba, Antônio Fischer, possivelmente viúvo (não conseguimos precisar ainda a data da morte de Elizabeth Barth), se mudou para Rio Claro, ali ele morou na Rua Alegre, nº 05, atual Avenida Cinco e passou a trabalhar como negociante. Ele estreitou laços com a comunidade evangélica local, prova disso é que o nome dele consta como padrinho de casamento e de batismo em alguns registros luteranos.

Anton Fischer (administrador de Ibicaba) padrinho de Anton Koch
Anton Fischer (administrador de Ibicaba) padrinho de Anton Koch
Anton Fischer testemunha de casamento de Joahnn Laubenstein e Carolina Grahnert.
Anton Fischer testemunha de casamento de Joahnn Laubenstein e Carolina Grahnert
Anton Fischer padrinho de Anton Escher
Anton Fischer padrinho de Anton Escher

Em 08 de outubro de 1874, em Rio Claro, São Paulo, Anton Fischer, aos 51 anos, se casou, em segunda núpcias, com Paulina Grahnart, nascida em 11 de janeiro de 1846. Ela filha de Karl (Carlos) Grahnart e Margarida Grahnert, imigrantes provenientes da Turíngia, que também foram colonos em Ibicaba e chegaram no Brasil por volta de 1855/56.

Certidão de casamento de Anton e Paulina
Certidão de casamento de Anton e Paulina

Paulina Fischer faleceu pouco tempo depois do casamento, em 15 de novembro de 1875, em Rio Claro, São Paulo, onde foi sepultada no cemitério evangélico. O casal teria morado na Rua da Boa Vista, Nº 05, atual Rua Sete. O casal nao teve filhos.

Assento de óbito de Paulina Fischer, nascida Grahnert
Assento de óbito de Paulina Fischer, nascida Grahnert

O nome de Anton também aparece nos registros de membros/sócios do cemitério evangélico de Rio Claro, em 1879.

Lista de sócios do cemitério evangélico de Rio Claro
Lista de sócios do cemitério evangélico de Rio Claro

Antônio Fischer faleceu em 23 de agosto de 1884, aos 62 anos e foi sepultado no cemitério evangélico em Rio Claro, onde ele teria vivido seus últimos anos de vida. Sua residência teria sido na então Rua Alegre, Nº 5, atual Avenida Cinco.

Assento de óbito de Anton Fischer
Assento de óbito de Anton Fischer

Transcrição: Anton Fischer foi hoje aos 23 de agosto de 1884 – sepultado no Cemitério Evangélico local, natural da Alemanha, com 62 anos de idade.

Martin ou Martinho Fischer uma confusão inicial

Martinho Fischer e Martin Fischer

Quando iniciamos as pesquisas genealógicas sobre a família Fischer, descobrimos que nosso antepassado mais antigo até então, Henrique Fischer (1874-1939), era natural de Constituição, atual Piracicaba, São Paulo e filho de Martinho Fischer e Maria Dupre.

Este nome, Martinho Fischer, despertou nossa curiosidade quando descobrimos que um dos imigrantes da primeira lista de colonos da Fazenda Ibicaba se chamava Martin Fischer. Pensávamos que Martinho pudesse ser uma forma carinhosa de tratamento no diminutivo para o pai de Henrique.

Martin Fischer é um dos imigrantes recrutados em agosto de 1846 pela Vergueiro e Cia sob o contrato de trabalho no regime de parceria, para integrar o grupo de colonos pioneiros da Fazenda Ibicaba. Ele deixou o porto de Hamburgo, onde hoje é a Alemanha, rumo ao Brasil, em abril de 1847 e, depois de 42 dias de viagem pelo Oceano Atlântico, em 01 de junho, chegou em Santos, São Paulo, junto com os primeiros imigrantes contratados.

Lista original dos imigrantes no livro de abertura da Colônia Vergueiro
Lista original dos imigrantes no livro de abertura da Colônia Vergueiro em 1846
Lista dos imigrantes no livro de abertura da Colônia Vergueiro
Lista dos imigrantes no livro de abertura da Colônia Vergueiro em 1846

Depois de uma cansativa viagem, de Santos até Limeira, no lombo de cavalos e burros, em 16 de junho de 1847, junto com 75 famílias e 364 pessoas, Martin Fischer e sua família enfim chegavam na Fazenda Ibicaba, em Limeira, São Paulo.

Vale ressaltar que nesta lista dos primeiros colonos há apenas os nomes dos chefes de família e nada mais, diferente de listas posteriores da Colônia, que trazem dados como o local de origem, profissão, estado civil, o nome da esposa e ainda os dos filhos. 

Estávamos animados com nossas pesquisas, até descobrirmos que Martinho Fischer, pai de Henrique, nasceu em 1850. Com essa informação, comprovada pelo registro de óbito dele, em 1913, aos 63 anos, em Limeira, São Paulo, descartamos a possibilidade do nosso Martinho, ser o Martin Fischer que chegou em Ibicaba em 1847.

Mas não desistimos, nossas hipóteses levavam a pensar que Martinho pudesse ser filho de Martin. Continuamos as buscas até encontrarmos o assento de batismo de Martinho Fischer nos registros do Family Search.

No documento da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores consta que Martinho Fischer nasceu em 05 de setembro de 1850 e foi batizado em 05 de outubro do mesmo ano. Ele era filho de Antonio Fischer e Izabel Barth.

Assento de batismos de Martinho Fischer
Assento de batismos de Martinho Fischer

Transcrição: No mesmo dia e igreja batizei e pus os santos olhos no menino Martinho, de idade de um mês, filho de Antonio Fischer e Izabel Barth. Foram padrinhos Martinho Fischer e sua mulher Catharina Fischer.

Este documento mostrou que Martinho não era filho do Martin Fischer de Ibicaba, mas com a informação sobre seu pai Antonio, descobrimos que ele era na verdade neto. Isso porque Antonio Fischer é na verdade Anton Fischer, um dos filhos de Martin.