Martin Fischer um patriarca da família Fischer no Brasil

Indícios mostram que Martin Fischer é um dos patriarcas pioneiros da família Fischer no Brasil e ainda mais se considerarmos apenas o estado de São Paulo. Ele teria chegado no Brasil em 1 de junho de 1847, como contratado pela Vergueiro e Cia, para trabalhar como colono, em regime de parceria, na Fazenda Ibicaba, em Limeira.

Ainda não conseguimos encontrar documentos que comprovem de fato que este Martin Fischer da Fazenda Ibicaba é o nosso antepassado, mas há fortes indícios de que seja ele. Há pouquíssimos documentos sobre esse período, o que dificulta a comprovação.

Além do registro no livro de abertura da Colônia Vergueiro, onde há o nome de Martin Fischer, nesta página há um indivíduo de nome Martin Fischer que emigrou em 1846, mas não se sabe para onde. Na primeira lista de Ibicaba há apenas os nomes dos chefes de família e nada mais, o que dificulta as pesquisas. Já em listas posteriores da Colônia há o local de origem, profissão, estado civil e o nome da esposa e ainda os dos filhos.

Lista original dos imigrantes no livro de abertura da Colônia Vergueiro
Lista original dos imigrantes no livro de abertura da Colônia Vergueiro em 1846

Os registros de emigrantes, na Alemanha daquela época, eram de forma incompleta; geralmente as licenças para saírem do país, assim como os passaportes, eram dos grupos familiares e, até onde sabemos, nem sempre mencionavam o nome das esposas ou dos filhos. Assim como na Alemanha, os registros de imigrantes no Brasil, daquela época, eram precários ou inexistentes.

Segundo o autor José Eduardo Heflinger Jr. em seu livro Ibicaba o berço da imigração europeia de cunho particular (pag. 37, 38, 39 e 40), ele cita que em 1846 o Senador Nicolau de Campos Vergueiro, a pedido do governo imperial do Brasil, tendo em vista o eminente fim da escravidão, empreendeu a busca por imigrantes interessados em virem para o Brasil, iniciando a substituição do trabalho escravo pelo trabalhador livre. O fato da Alemanha na época viver um período de grave crise, com falta de emprego, fome e frequentes conflitos internos e externos, motivava o alemão a ter interesse pela proposta de vida nova na América do Sul, mas segundo o autor, o interesse era maior da classe média urbana e não do pobre camponês, que vivia na roça e tinha medo de enfrentar o desconhecido. Por isso, muitos dos imigrantes que vieram para Ibicaba não eram lavradores, mas sim trabalhadores urbanos como marceneiros, serralheiros, sapateiros, ferreiros, pedreiros, entre outros.

A proposta de trabalho para o imigrante era o regime de parceria, no qual o contratante, no caso a Vergueiro e Cia, custeava a viagem do imigrante e seus familiares, que já saiam da Alemanha contratados, mas teriam que pagar essa dívida depois. Cerca de 450 pessoas, de várias partes da Alemanha, mas principalmente da Renânia e do Holstein, foram recrutadas na Alemanha e reunidos na cidade de Mainz. De lá foram para o Porto de Hamburgo, por onde deixaram a Europa em março de 1847. Ao chegarem no Brasil, em junho de 1847, desembarcaram no Porto de Santos 422 pessoas, sendo que 401 colonos foram encaminhados para a fazenda Ibicaba, onde tinham 34 casa aguardando para abriga-los. Na fazenda foram destinados a eles um pedaço de terra onde deveriam plantar ítens básicos para alimentação como feijão e arroz, no entorno da casa poderiam criar animais como porcos e galinhas. Outros alimentos eram vendidos para o colono numa espécie de armazém que havia dentro da própria fazenda. Cada família recebeu um número de pés de café que deveria cuidar. Parte do valor fruto das colheitas do café ficava para o fazendeiro e parte para o colono. Este dinheiro o colono usava para seu sustento e também para quitar sua dívida com o contratante. 

Depois de alguns meses na colônia, alguns imigrantes já celebravam a vida no Brasil e escreviam cartas para a Alemanha, contando como era a vida no novo país e muitas vezes convidando outros familiares para também emigrarem. Martin Fischer foi um dos colonos que escreveu uma carta para a Alemanha, em 1848, relatando como era a vida em Ibicaba e manifestando contentamento com o regime de parceria. Mas esta carta ainda não encontramos, seguimos em busca dela.

Apesar de não termos um documento que comprove, as pesquisam levam a crer que este Martin Fischer de Ibicaba seja o Martin Fischer casado com Catharina Elizabeth Stumpf. Este casal emigrou para o Brasil antes de 1851, prova disso é que um filho deles se casou nesse ano, em Limeira. Tal indício colabora para nossa hipótese de coincidência entre os Martin, que muito provavelmente se tratam da mesma pessoa.

Martin Fischer
Martin Fischer

Martin Fischer e Catharina Elizabeth Stumpf tiveram sete filhos que emigraram com eles para o Brasil:

Anton Fischer (1823-1884)

Johann Jakob Fischer (1825-?)

Johann Martin Fischer (1829-1912)

Friedrich Fischer (1831-?)

Heinrich Fischer (1834-?)

Catharina Fischer (1837-1892)

Phelipp Fischer (1843-?)

Martin Fischer nasceu em 1804 e sua esposa Katharina Elizabetha Stumpf em 1794. A diferença de 10 anos entre eles e no caso a esposa mais velha que o marido, embora pareça algo estranho, era comum na época.

Quando o casal emigrou com os filhos da Alemanha para o Brasil eles moravam em Flonheim, Alzey-Worms, no estado da Renânia-Palatinado, na Alemanha. Ali eles se casaram e tiveram seus filhos, mas não conseguimos confirmar, ainda, se eles são naturais dessa localidade.

Sobre o matrimônio do casal conseguimos encontrar um documento de 22 de maio de 1832, uma espécie de revalidação do casamento. O registro, em alemão, é da igreja de Flonheim.

Casamento Martin Fischer e Catharina Stumpf
Casamento Martin Fischer e Katharina Stumpf

Transcrição e tradução: Após inscrição no registro matrimonial da paróquia civil de Flonheim, de acordo com a certidão do prefeito local, o casamento entre Martin Fischer de Flonheim e Katharina Elisabeth Stumpf de Flonheim, foi celebrado no dia vinte e dois de Maio de 1832 e foi publicamente abençoado pelo pastor protestante de Flonheim, após a proclamação ordinária anterior, hoje no dia vinte de dois de Maio de 1832.

Uma curiosidade sobre Martin Fischer e sua família é que antes de emigrarem da Alemanha para o Brasil, eles tentaram emigrar para os EUA, em 1837, mas por algum motivo ainda desconhecido, eles não se mudaram para a América do Norte e 10 anos depois, em 1847 desembarcaram no Brasil.

Cerca de 10 anos depois do início da Colônia Vergueiro, em 1857, aconteceu a revolta dos colonos, liderada por Thomas Davatz, como consta no livro Memórias de um Colono no Brasil. Os revoltados acusavam o regime de parceria de ser injusto e impor aos colonos uma situação de escravidão por dívida. Os colonos descontentes relatavam que com o valor que recebiam da parte que lhes cabia na colheita, mais o alto custo dos produtos adquiridos por eles no armazém da fazenda, era impossível quitarem a dívida com o contratante e ficarem livres para viverem suas vidas onde quisessem. Este fato com grande repercussão na Europa, obrigou o senador Vergueiro a comprovar que a vida dos colonos na fazenda não era tão ruim e para isso precisou demonstrar através de dados, que muitos imigrantes haviam quitado suas dívidas e deixado a colônia, livres para viverem suas vidas nas cidades e alguns deles com dinheiro suficiente para adquirirem propriedades. 

Este foi o caso de Martin Fischer, que é citado na lista enviada pelo Senador Vergueiro, que consta no livro Revolta dos Parceiros de Ibicaba (pág. 62) como um dos colonos que em 1857 já havia deixado a colônia Ibicaba com dinheiro e tinha propriedade. Ou seja, embora alguns colonos pudessem ter enfrentado dificuldade que motivaram a revolta, outros, especialmente aqueles em idade ativa, com saúde e família numerosa, com muitos filhos já em idade para trabalhar, conseguiram quitar suas dívidas com o contratante e estavam livres para viverem suas vidas como quisessem.

Não conseguimos precisar a data exata que Martin Fischer deixou a fazenda Ibicaba, mas há indícios de que no início dos anos 1850 ele já não estava mais na colônia e seu filho mais velho Anton Fischer já havia assumido uma função administrativa na colônia, como cita o autor José Sebastião Witter, no livro Ibicaba uma experiência pioneira (pág. 58), quando diz que de 1850 até 1867 os diretores de origem alemã Adolph Jonas e Anton Fischer detiveram o poder.

Mas mesmo com os exemplos bem sucedidos de colonos que pagaram suas dívidas e seguiram suas vidas no Brasil, a campanha contra a imigração pelo regime de parceria causou grande repercussão na Europa, especialmente nos países germânicos, que proibiram em 1857, após a Revolta dos Colonos, a vinda, de maneira legal, de mais imigrantes. Outros grupos de emigrantes deixaram a Alemanha posteriormente a proibição, mas muitos de maneira ilegal, sem a aprovação do governo local. Essa dificuldade maior para os recrutadores, fez com que eles fossem obrigados a buscar outros povos interessados na vinda para o Brasil. Foi então que começou a vinda dos italianos, que no final do século XIX e início do século XX povoaram o Brasil e se tornaram um dos maiores grupos migratórios do país.

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